A memória, essa amiga desleal, me fez lembrar do momento em que, sutil como uma cobra, desviei meu olhar de um afeto para um baile, disfarçado de camaradagem.
Era um grupo hábil para consolar. As palavras saíam fáceis, tipo texto decorado para o teatro: “Força, tu é capaz!”, ou “A união faz a força”. Bleh. Falas certas, ensaiadas.
Porém, descobri um pouco tarde que eram palavras soltas, sem os atos de solidariedade. Competição febril, vestida de amizade. A cada elogio, uma nesga de despeito. Em cada riso, o tom meio estridente de quem espera o tombo do outro.
Se a hipocrisia tivesse voz, teria palavras bem mais convincentes.
Gestos minúsculos, ações mínimas, afagos fingidos. Saí daquele círculo com o peito pesado, mas sem mais ilusão. Amizade não precisa ser anunciada em voz alta, mas sim, silenciar diante da tristeza e ao mesmo tempo, ter mão firme.
Falas que não combinam com atitude, eco vazio, amizade medida pela notoriedade do amigo. Essas, eu não quero
Esse é um trechinho de um trabalho que ainda não tem data para ser publicado, mas senti vontade de mostrar pra vocês antes, porque eu amo dar um spoiler, principalmente das coisas que eu escrevo.
Não sei se já disse isso, mas eu tenho uma cabeça que é uma usina de pensamentos, ela é inquieta, criativa, associativa e curiosa. A descoberta da escrita como um exercício frequente, além de aliviar a carga de uma cabeça cheia, virou uma necessidade, e passar a compartilhar, virou uma baita satisfação. Mas, que fique dito: Eu não escrevo para mensurar resultados, engajamentos, alcance, ranking, número de avaliações. Eu escrevo porque preciso, porque faz bem pra mim e eu gosto de apreciar meu trabalho. Coisa boa quando encontro ressonância em quem lê, em quem lê e gosta, indica, compra, avalia, me prestigia. Na minha caminhada de evolução, diminuir o ego é uma das prioridades. Essa postura de “fazer o meu” e dar uma banana pro resto, ironicamente, é o que tem feito efeito.
O que estou lendo:
“Amor e abuso não podem coexistir. Abuso e negligência são, por definição, os opostos de nutrimento e cuidado.” - terminando “Tudo sobre o amor”, da Bell Hooks. Esse livro se debruça sobre os conceitos embolorados e cafonas de amor, espanando a poeira. Abre o mar ao meio, mostrando o caminho certo. Leitura necessária.
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“-Já peguei as roupas, Carla. - ele disse, não dando muita relevância.
- Sobe agora e pega todas, todas as tuas coisas (…)
- Eu não tenho como levar tudo agora.
- Eu também não tinha como pensar em ser traída e fui. Logo, tu pode muito bem subir e pegar todas as tuas coisas, e agora! - ela gritou”
“Até que o divórcio vos reúna”, da Bruna Tessuto, me ganhou nas primeiras linhas, e desde então, anda na minha bolsa. Tô lendo devagar pra economizar o livro. Logo que terminar, vai ter resenha. A escrita da Bruna é agil, relevante, mistura leveza com densidade e é um deleite de ler.
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Não é preciso entrar para a história para fazer um mundo melhor.
Mahatma Gandhi
Caiu no meu colo uma expressão muito curiosa, esses dias: “satyagraha”
Fui atrás.
Mahatma Gandhi foi um líder político e espiritual que lutou pela independência da Índia, defendendo a não-violência, a resistência passiva, a tolerância e a compreensão entre os povos.
Historicamente, ele acreditava que a mudança real não dependia de grandes feitos que entrassem para os livros de história, mas sim das pequenas ações diárias feitas com verdade e amor.
Seu conceito de satyagraha (resistência pela verdade) mostrava que cada pessoa, independentemente de sua posição ou fama, tinha o poder de transformar o mundo por meio da não violência e da justiça.
Para Gandhi, cada ato de bondade, cada renúncia ao egoísmo, cada escolha pelo caminho da verdade já é, em si, um ato revolucionário.
Se pararmos pra pensar, o bem verdadeiro não pede aplausos, não busca estátuas e não escreve seu nome na areia.
Na verdade, ele acontece no olhar que acolhe, na mão que levanta, no abraço que fortalece, no sorriso que colore o dia cinza, na escuta antes da fala e no toque leve no ombro de quem carrega muito.
O bem verdadeiro é a água que sacia sem perguntar a sede, o vento que refresca sem esperar gratidão. Ele floresce no coração de quem dá, e transforma, sem alarde, o coração de quem recebe.
No fim do dia, não é o tamanho do que fazemos, mas o amor que colocamos em cada coisa que transforma o mundo ao nosso redor.
Pra quem vive esperando um reconhecimento ou uma posição de destaque pra ajudar o próximo, é bom lembrar de Santo Agostinho: “se o homem soubesse as vantagens de ser bom, faria o bem por egoísmo”.
Até a próxima newsletter!
Com amor, Andrea
Trechinho pra lá de bom este!