Oi, sumidos.
Hoje quero falar sobre um bicho astuto e uma frustração.
Diz a fábula — dessas que já serviram tanto pra moral quanto pra desculpa — que uma raposa faminta viu um cacho de uvas lá no alto da parreira. Saltou. Saltou de novo. E, mais uma vez, com a dignidade já esfiapada. Nada. As uvas seguiram onde estavam: inalcançáveis, bonitas, quase debochadas.
Foi aí que a raposa, recomposta e com a pressa típica dos vaidosos feridos, murmurou, com o nariz empinado:
— Estão verdes. (Eu nem queria mesmo.)
E seguiu seu caminho, deixando pra trás a fome, o fracasso e uma justificativa muito elegante.
Desde então, todo mundo que fracassa com categoria repete o mesmo teatro. Trocam-se as uvas por crushes, empregos, prêmios, editoras, seguidores, mesas de bar ou amizades que não vingaram. A desculpa, no entanto, continua a mesma: “Nem queria tanto assim”.
A psicologia moderna chama isso de racionalização. Os britânicos dizem “sour grapes.” Em Portugal, mandam um “Ah, mas são verdes” com sotaque que machuca menos. E por aqui a gente resume tudo num ditado bem direto: quem desdenha, quer comprar.
Eu, por exemplo, já disse que não queria o que perdi. Já chamei de desinteressante quem não me quis. Já torci o nariz pra oportunidades que me deixaram de fora. E fiz tudo isso com um ar quase nobre, como quem recusa o banquete — mas só porque “tô de jejum”.
A verdade? Estavam verdes, sim. Mas era exatamente esse o ponto: eu queria mesmo assim.
E você? Quais uvas tem desprezado por não alcançar?
Com afeto ácido (e só um pouquinho doce),
Andrea
Perfeito!